Outro dia vi uma ideia muito legal em alguma página (não me lembro qual), onde pessoas
foram convidadas a escrever uma carta para seu ‘eu’ de dez anos atrás. Isso me
fez pensar e querer escrever uma carta pro meu ‘eu’ também. Mas não a de dez
anos atrás.
Dez anos atrás eu estava começando uma nova etapa da minha
vida, tinha acabado de fazer dezoito anos (a grande idade!) e estava entrando
na faculdade. Dez anos depois não, eu não tenho um diploma de graduação. Eu
tenho muitos certificados, uma bagagem até boa de experiências diferentes de
vida, algumas passagens por diferentes cursos e universidades mas nenhum
diploma. E não, eu não desisti dele. Só entendi com muito custo que meu timing é um pouco diferente, e por mais
que eu tenha tentado me forçar, simplesmente não consegui chegar lá. Ainda.
Se eu fosse escrever para meu eu de antes, eu mudaria muita
coisa e provavelmente não estaria onde estou hoje. Eu teria enfiado a cara na
medicina veterinária e estaria trabalhando em algum lugar legal com carteira
assinada e salário mensal. Eu seria feliz assim também. Mas provavelmente não
teria morado na África e conhecido um mundo totalmente diferente do meu.
Provavelmente também não teria escrito e publicado um livro,
até porque grande inspiração dele veio desses dez anos que não teriam
acontecido se eu tivesse dado ‘pitaco’ para mim mesma. Eu teria dado muuuito
‘pitaco’.
Talvez se eu tivesse feito diferente, não teria tido
momentos tão difíceis com meu pai, mas tudo bem, hoje estamos bem e acho que
ele me entende melhor agora.
Talvez eu não tivesse conhecido o amor da minha vida, porque
eu seria diferente, não sei se melhor ou pior, mas diferente.
Então eu prefiro não escrever pro meu eu de ontem, porque ao
tentar prevenir alguns erros cruciais acho que mudaria todo meu percurso até
aqui e, depois de muito custo, sinto que finalmente estou caminhando para algum
lugar. Tomara!
Eu escrevo então pro meu eu de daqui dez anos: Uau estou
beirando os quarenta! Que frio na barriga! Não sei o que vou ter conquistado ou
perdido até lá, mas me faria os seguintes pedidos: Não tenha medo de aparecer.
As pessoas intimidam mesmo, mas você se garante! Corrija os estragos que seus
professores e colegas fizeram no passado, te deixando com um bloqueio para
falar em público e encare esse desafio, porque você tem muito a contar.
Espero que você esteja tranquila, que o lançamento do seu
livro tenha sido um sucesso! Pode até não ter vendido nada, mas tem muita gente
que gosta de você e eu tenho certeza que eles foram lá te apoiar. Sim, eles
devem ter te visto ficar vermelha de vergonha por estar exposta aos “holofotes”
da noite, perceberam o suor na sua zona T e sua voz tremida. Mas em algum
momento alguém deve ter te dado um lenço para secar o rosto e quem sabe até uma
taça de espumante para acalmar. O importante é que no dia seguinte você ficou feliz
de ter vivido aquele momento que foi seu, sua conquista, sua noite.
Eu não sei se você escreveu outros livros, ou se conseguiu se
sustentar como fotógrafa, não sei nem se ainda mora no Brasil. Se depender do
seu eu de hoje, você deve estar morando em algum outro país. E vamos falar a
verdade: não é por causa da política catastrófica e tudo que tem de errado
aqui, no fundo você ama esse Brasil por mais problemático que ele seja. O motivo é que esse mundo gigante e todo
diferente te dá o melhor frio na barriga que você já experimentou, então dada a
oportunidade espero que você tenha ido porque eu sei que você
não vai se arrepender. Mas acima de tudo espero que tenha levado o Tê. Com vocês é amor de verdade, e vocês de divertem muito juntos, não tem companhia melhor para desbravar o mundo do
que ele. Tomara que ele tenha aceitado ir junto. Ter uma vida juntos. Mas não é segredo
pro meu eu de daqui dez anos que ele aceitou né?! Pode me contar!
E não reclame muito, é chato. Chato mesmo. De vez em quando
é necessário mas o tempo todo não, por favor, é insuportável! E pra que
reclamar? Você é feliz. Mais que hoje, e menos que o seu ‘eu’ de amanhã.